Exílio
Chegada a Portugal
Permanência em Portugal
Partida de Portugal
Fim do exílio
Friedrich Stampfer (1874 – 1957) é um dos mais destacados membros do partido Social-Democrata alemão no tempo da República de Weimar e do exílio.
Influenciado pelo pai, um advogado judeu que lutara pela democracia liberal em 1848, Friedrich Stampfer inicia a sua atividade política ainda no tempo da adolescência no seu Brünn natal, à data pertencente ao Império Austro-Húngaro. Depois de estudar economia em Viena e Leipzig (1893-98) e de dois anos como redator da Leipziger Volkszeitung, torna-se jornalista livre em Berlim, e aí funda uma agência noticiosa de orientação social-democrata.
Em novembro de 1916, depois de regressar da frente de batalha, onde servira o exército austro-húngaro, regressa a Berlim e à atividade editorial. Cidadão alemão desde 1919 e deputado à Assembleia da República de Weimar desde 1920, a sua história passa a confundir-se com a história do partido social-democrata alemão. Integra o grupo que esboça o Programa Görlitzer (1921), pertence a partir de 1925 à direção do SPD como um dos mais destacados defensores da linha de orientação anti revolucionária e anti comunista, e entre 1922 e 1928 é membro da sua Comissão Programática, assim como, pesem embora as suas convicções, das (malogradas) negociações para uma frente unitária com o partido comunista alemão, em 1935/36. Até à ilegalização do jornal diário Vorwärts [Avante], órgão central do SPD, será seu redator chefe (com uma pequena interrupção em protesto contra a assinatura do Tratado de Versailles), e nessa qualidade influenciador do pensamento de muitos dos liders do partido, sendo considerado determinante para a construção da imagem deste na imprensa.
Com os atentados contra a liberdade decorrentes da escalada de Hitler ao poder, o SPD divide-se, gradualmente e de forma nem sempre pacífica, em duas orientações divergentes: por um lado e dentro da Alemanha, aposta-se numa oposição legal ao nacional-socialismo, enquanto, por outro, e a partir do estabelecimento de uma delegação em Praga e de grupos de intervenção junto das fronteiras, se procura denunciar os crimes do nacional-socialismo e orientar as atividades ilegais do partido na Alemanha.
Depois do ataque aos sindicatos em 2 de maio de 1933, a direção do partido convence Friedrich Stampfer a partir para Praga, sendo que o seu nome constará da 1.ª lista daqueles a quem os nacional-socialistas retiram a cidadania alemã. (Juntamente com ele vão Otto Wells e Sigismund Crummerle; pouco depois seguirão, entre outros, Hans Vogel e Erich Ollenhauer; outros, como Albert Grzesinski, Rudolf Breitscheid e Rudolf Hilferding haviam já emigrado) (Benz, 11).
Apesar da sua aversão ao exílio, mas especialmente ameaçado pela sua origem judaica, e convencido de que a oposição só poderá cumprir a sua missão a partir do estrangeiro, Stampfer radica-se em Praga, acompanhado da mulher e da filha, depois de uma curta passagem por Saarbrücken, no Sarre ocupado pela França, para participar numa conferência dos membros da direção no exílio. A partir do início de junho, Integra a direção da SOPADE, o SPD no exílio, bem como a do Neue Vorwärts [Novo Avante), jornal de que é também redator chefe.
Na primavera de 1938, pressentindo a vulnerabilidade da Checoslováquia face a uma invasão nacional-socialista, a direção da SOPADE refugia-se em Paris, de onde Stampfer empreende diferentes viagens aos EUA, com o intuito de garantir financiamentos para o seu partido junto de correligionários e sindicatos americanos e de estabelecer os fundamentos do German Federation of Labour.
Um ano volvido, poucos dias antes da ocupação de Paris pelas tropas alemãs, encontra-se de novo em fuga, desta feita para o sul de França, antecipando a chegada dos nacional-socialistas. O percurso de fuga desde Paris até Lisboa e a chegada de Stampfer a Nova Iorque são documentados em pormenor pela filha Marianne (Stampfer Loring) nas suas memórias (vd. verbete nesta base). Nelas é dado destaque à grande preocupação do pai face à situação desesperada em que se encontravam e ao seu empenhamento em provir às necessidades de todo o grupo, pelo qual se sente em grande parte responsável. Do texto decorre também a preocupação da filha com a fragilidade física que percebe no pai, que conta à data já 66 anos.
Stampfer fora enviado para o sul com a missão de encontrar refúgio para os membros do partido que se encontravam ainda internados em campos de refugiados, o que consegue na pequena vila de Castres, para onde o grupo gradualmente converge. À medida que as tropas alemãs avançam, o grupo empreende uma fuga errática, na tentativa primeiro de chegar a Bordéus, para daí alcançar o Reino Unido, depois procurando alcançar Sète, uma vila portuária na costa mediterrânica, na tentativa, também ela gorada, de atravessar para África. Agen, Tonneins, Castres, Montpellier, St. Pon, são pontos de passagem Regressam a Castres, onde, depois de semanas ensombradas pela ameaça de serem entregues aos nacional-socialistas pelas autoridades francesas, Friedrich Stampfer é contactado pelo jornalista norte-americano Frank Bohn, seu amigo, que se instalara em Marselha ainda antes da chegada de Varian Fry e, ao serviço do American Joint Labor Committee, levava a cabo a difícil missão de salvar funcionários de sindicatos e socialistas europeus. É ele quem, juntamente com o cônsul americano providencia por fim os documentos que permitirão a fuga salvífica.
Munidos de vistos para a saída de França e para a travessia de Espanha e Portugal, os Stampfer abandonam a França pela fronteira de Cerbère/Portbou e entram em Espanha no dia 8 de setembro de 1940. Aterrorizados com o risco que pensavam correr num país dominado pelo Generalíssimo Franco, é com grande alívio que três dias depois chegam a Portugal, onde, como Stampfer escreve nas suas memórias, “[Em Portugal] já não havia perigo” (Benz, 144). Chegados a Lisboa, lugar de reunião de grande parte do grupo, os Stampfer instalam-se na Pensão Leiriense, à espera de um navio que os levasse para Nova Iorque. Em 6 de outubro partem, finalmente, no Nea Hellas.
Chegado à América, Stampfer lança-se de novo no trabalho político. Escreve para o jornal de exilados Neue Volkszeitung e colabora em organizações de apoio aos refugiados, deslocando-se no início de 1942 a Londres para estabelecer contactos com o Labour. Com uma perspetiva menos radical, Stampfer não logra chegar a um acordo com outros grupos socialistas. Frequentemente acusado de “nacionalismo”, Stampfer defende a participação da Alemanha nas conferências de paz e recusa a tese da culpa coletiva dos alemães, a perda territorial da Alemanha face às fronteiras de 1933, a transferência das populações e a redução da Alemanha a um país agrícola. Exigiu o fim das desmontagens de unidades fabris alemãs e da presença de tropas de ocupação em solo alemão: a Alemanha deveria ser um país de pleno direito numa Europa federal, e usufruir da proteção dos EUA contra o imperialismo soviético.
Em 1948, Stampfer regressa à RFA, a Frankfurt a.M., como docente da Akademie der Arbeit [Academia do Trabalho], cargo que irá desempenhar até 1955, e retoma as suas atividades publicistas.
Benz, Wolfgang (1996), «Fliehen vor Hitler. Einleitende Bemerkungen zum sozialdemokratischen Exil», in: M.Loring, Flucht aus Frankreich 1940. Die Vertreibung deuscher Sozialdemokraten aus dem Exil, Frankfurt a.M., Fischer Taschenbuch Verlag.
Droz, Jacques (2020), «Friedrich Stampfer», in: Le Maitron. Mouvement Ouvrier, Mouvement Social, Dictionnaire Biographique, https://maitron.fr/spip.php?article216914, version mise en ligne le 23 juin 2020, dernière modification le 28 may 2020.
Gründler, Gerhard E. «Stampfer, Friedrich», in: Neue Deutsche Biographie 25 (2013), 51-51, Online-Version)
Loring, Marianne (1996), Flucht aus Frankreich 1940. Die Vertreibung deuscher Sozialdemokraten aus dem Exil, Frankfurt a.M., Fischer Taschenbuch Verlag.
Stampfer, Fr. (1957), Erfahrungen und Erkenntnisse. Aufzeichnungen aus meinem Leben, Köln, Kiepenheuer & Witsch.
Stampfer, Friedrich (1996) «Flucht aus Frankreich», in: Loring, Marianne, Flucht aus Frankreich 1940. Die Vertreibung deuscher Sozialdemokraten aus dem Exil, Frankfurt a.M., Fischer Taschenbuch Verlag, pp. 141-145.
(Teresa Martins de Oliveira)
Stampfer, Fr. (1957), Aufzeichnungen aus meinem Leben (Autobiografia)
— (1968), Mit dem Gesicht nach Deutschland . Ein Dokument über die sozialdemokratische Emigration aus dem Nachlaβ
Stampfer, Fr. (1957) Aufzeichnungen aus meinem Leben (Autobiografia)
Archiv der Sozial Demokratie, Bonn
Do/a autor/a sobre o exílio