
Exílio
Chegada a Portugal
Permanência em Portugal
Partida de Portugal
Fim do exílio
A atividade literária de Franz Werfel divide-se entre a lírica expressionista, a que o autor deu primazia, e o teatro e a narrativa, que fazem dele um dos autores de língua alemã de maior êxito nos anos 20 e 30. Nascido numa família de abastados judeus praticantes de Praga, confessa-se marcado também pela religiosidade católica, que experiencia de diferentes formas desde criança. Com ligações ao círculo literário de Praga (priva com Franz Kafka, Max Brod e com Max Polack), também o seu trabalho de leitor na editora Kurt Wolff e de co-editor da série expressionista Der jüngste Tag lhe permite aproximar-se de Rilke, de Hasenclever e de Karl Kraus, do qual se virá a distanciar.
Talvez por influência da mulher, a controversa Alma Mahler, FW procura adaptar-se às exigências do regime nacional-socialista (assina em março de 1933 a declaração de lealdade ao regime exigida pela Preuβische Akademie der Künste e no final desse ano pede a aceitação no Reichsverband Deutscher Schriftsteller). Todavia, as suas obras são queimadas pelos nazis, enquanto obras de um autor judeu, defensor da paz e da fraternidade universal e denunciante do Genocídeo Arménio, no seu romance Die vierzig Tage des Musa Dagh [Os Quarenta dias de Musa Dagh] (1933), que viria a ser lido como uma premonição do Holocausto. Ao longo do exílio, FW declarará crescente e claramente o regime de Hitler como uma «heresia moderna», que considera paralela à do comunismo.
A uma primeira fuga para França, em 1938, – organizada por Alma Mahler-Werfel, que regressa à Áustria mal o «Anschluss» se anuncia, enquanto FW permanece em Capri, onde o casal se encontrava de férias – segue-se, dois anos depois, a difícil organização de nova fuga, desta vez para os EUA. Esta ocorrerá de forma muito atribulada, com Werfel em grande risco e aterrado por saber o seu nome inscrito na lista dos procurados pela polícia alemã. Falhada uma primeira tentativa de atravessar a fronteira em Hendaya com um visto arranjado em Bayonne, em 23. 06. 1940, o casal Werfel, depois de um périplo errático por França, refugia-se em Lourdes até conseguir documentação que lhe permita o regresso a Marselha. [É bem conhecida a experiência religiosa do judeu Werfel nas sete semanas que passa em Lourdes e que está na origem do seu romance A Canção de Bernardette (194)1].
Na última semana de agosto, os Werfel estão em Marselha, onde encontram Heinrich Mann, com a mulher e o sobrinho Golo, com quem virão a fazer toda a viagem até aos EUA. Alma conta na sua biografia os dias tensos da demanda por papéis que lhes permitissem emigrar, mostrando-se muitas vezes desagradada com as condições que encontram no consulado dos EUA, nomeadamente com o cônsul Bingham e o próprio Varian Fry do ERC, aos quais, pesem embora os comentários menos favoráveis de Alma, ficarão a dever a sua fuga. No dia 12 de setembro partem de Marselha, de comboio, até Cerbère, onde se instalam num hotel, enquanto V. Fry tenta obter autorização para a sua passagem de fronteira, o que não se revela possível. Atravessam os Pirenéus a pé, num percurso difícil e aventuroso, que Alma, mais uma vez, descreve na sua autobiografia (as dificuldades do caminho, especialmente para o septuagenário corpulento que era Heinrich Mann; as superstições de Nelly, que temia empreender a fuga a uma sexta-feira treze; a separação do grupo; o encontro do casal Werfel com um guarda fronteiriço catalão que, depois da distribuição de cigarros, os leva à fronteira francesa, onde os deixam afinal partir para Portbou; o apoio de uns carregadores opositores ao regime franquista; o reencontro com os Mann, e, depois, com Varian Fry e as malas; as referências às marcas da guerra na Espanha destruída e muito pobre, impressão que se mantém em Barcelona, onde chegam de comboio). Dois dias volvidos, continuam a viagem para Madrid, de onde partem de avião para Lisboa. Alma explica a este propósito: «Tinham-nos avisado que não fossemos de comboio para Portugal, já que na fronteira portuguesa todos os emigrantes eram simplesmente presos – por isso tivemos que ir de avião» (Mahler-Werfel apud Alma).
Chegados a Lisboa, instalam-se no Grande Hotel d’Itália no Estoril a partir do dia 18 de setembro, registando-se como um casal de nacionalidade checoslovaca. Na noite de 3 para 4 de outubro partem no «Nea Hellas» rumo a Nova York, onde chegam a 13 do mesmo mês, vindo depois a transferir-se para a Califórnia. O sucesso das suas obras e a adaptação delas à indústria cinematográfica garantem a Werfel uma vida luxuosa nos EUA, onde retoma o convívio próximo com outros refugiados ilustres, e vem a obter a nacionalidade americana, em 1941. Não deixa, contudo, de se sentir amargurado no exílio, e morre precocemente, na sequência de um terceiro enfarte. É enterrado em Beverly Hills, mas transladado, com honras oficiais, para Viena, em 1975; também postumamente, em 2006, é-lhe atribuída a nacionalidade arménia.
Wagener, Hans, “Spuren des Exils im Werk Franz Werfel, DOI https://doi.org/10.1163/9789042028753
https://brill.com/view/book/edcoll/9789042028753/B9789042028753-s011.xml (acedido 5.3.2020)
Werfel, Alma Mahler, Mein Leben apud „Alma Lisboa“ (www.alma-mahler.com/archiv_lisboa/deutsch/info_lisboa/almaundlisboa.html) acedido em 27. 02. 2020
(Teresa Martins de Oliveira)
Werfel, Franz (1994), Der veruntreute Himmel. Die Geschichte einer Magd. Roman. 9. – 10. Tausend. Fischer-Taschenbuch, Frankfurt am Main 1994 [1939].
— (1997) , Cella oder Die Überwinder. Versuch eines Romans, Frankfurt a.M. , Fischer Verlag [1938].
— (2004), Jacobowsky und der Oberst. Komödie einer Tragödie in drei Akten, Frankfurt a. M., Fischer Taschenbuch Verlag [1944].
— (Stern der Ungeborenen [1946, publ. póstuma].
University of California (Los Angeles)
University of Pennsylvania (Philadelphia)
University in New Haven
Do/a autor/a sobre o exílio